20.7.07

Licenciatura

Vi um vídeo e a partir desse momento toda a minha vida passou a fazer sentido.

Pouco me lembro do que fiz antes de ter completado a 4ª classe. Tenho ideias vagas e perdidas e algumas memórias de instantes isolados, mas não consigo precisar a data exacta. Por exemplo, lembro-me de ter partido a cabeça, levei 3 pontos, rasguei o queixo, levei alguns pontos, sentei-me na lamina de um machado, levei 3 pontos (duas vezes). Ah e sei que tive dificuldade em aprender a porra das contas de dividir, tudo o mais era simples, mas aquelas contas xwz :y bolas que me davam cá um curto circuito. Lembro-me também que tinha jeito pró berlinde. Tinha tal talento que ganhava à malta os berlindes todos (incluindo os “olhos de boi”, as brilhantinas e as cebolas) e depois vendia-os aos antigos donos. Lembro-me de ter ficado uma vez de castigo porque não puxei o autoclismo. Ainda hoje penso nisso. Os meus tios e primos tinham ido lá a casa, o meu pai deixou as sardinhas esturrarem e depois vingou-se em mim. Isto para desviar as atenções das sardinhas.

Depois da 4ª classe o que mais me recorda é o peso da mochila. Aquela passagem foi um trauma. De inicio tudo parecia maravilhoso, 10 livros novos, todos diferentes, 10 cadernos novos, todos diferentes. “Não mãe, não quero dos pequenos (era a folha A5), quero dos GRANDES (folha A4), aqueles ali com a capa do mickey (capa grossa)”. Tão lindos que eram lá em casa, faziam cá um monte! E a mochila? Se calhar o melhor era ter comprado um camião... vá... ou pelo menos uma carrinha de caixa aberta. Que peeesooo. Mas aguentei.

Lembro-me de ter chegado ao 7º ano. Consegui sobreviver sem carrinha de caixa aberta. Na verdade, segundo a minha mãe cheguei a crescer 6cm nesses dois anos. Deve ter sido só de noite. No 7º ano fui para uma escola nova, perto de casa, às vezes ia a pé, outras enganava o pica do autocarro. Do 7º ao 9º correu tudo bem, quase sem sobressaltos, aprendi tudo na escolinha, os sistemas de equações, as introduções à física e química, as ciências da vida, a história (alguma), geografia (pouca), os primeiros namoricos, ai belos tempos. Lembro-me bem que tive que fazer um trabalho de grupo sobre Newton. Este homem foi um senhor. Comecei a jogar futebol federado, não sei bem com que idade, talvez 13/14.

Finalmente veio o secundário, mudei de escola outra vez. E de casa. Foram tempos difíceis. Não tanto como a época da mochila pesada. Ah e meu irmão saiu de casa, foi para a universidade. Tudo isto assim de repente. Apesar de tudo fui um bom aluno, continuava a jogar à bola, 3 treinos por semana, galhofa ao sábado, jogo ao domingo. Estudo sempre que era necessário. TFC’s sempre feitos. Depois, no inicio do 12º ano enamorei-me pela Teixeirinha, o meu rendimento escolar baixou, tive ali um transitório, uma adaptação e o meu professor de matemática chegou a temer o pior (chumbo por faltas), mas consegui “acordar” a tempo. Confesso que a nota de 15V no 2º período ajudou. Estava com 17 anos e a terminar o ensino secundário. Chegou o momento de ir pró ensino superior, escolher o curso e a universidade.
Aparentemente sem explicação sempre fui aplicado, escolhi engenharia e fui pró Técnico. Passei de bom aluno a médio baixo. O costume por aquelas bandas. E por outras. Nesta altura tive dificuldades em vários temas académicos apesar de continuar aplicado, vou só enumerar alguns, propagação e radiação de ondas electromagnéticas, fundamentos de telecomunicações, sinais digitais, transformadas de fourier, máquinas eléctricas, teoria da relatividade, termodinâmica, tantas... nunca deu pra mais de 15.

O tempo passou e terminei o curso. Nunca pensei muito bem porque fiz este percurso, sem hesitar, sem questionar, sem sobressaltos – tirando quando tive negativa a Educação Visual no 8º ano e os meus pais passaram-se -, sem prémios, sem motivações, sem obrigações... nada. Dava ideia que era o único caminho. Ou esse ou dedicar-me ao comércio de berlindes, que nisso eu tinha talento.

De facto, se calhar o “meu” caminho era este. E tinha mesmo que ser.

Vou-vos mostrar o filme que me iluminou.

Quando tinham 8/10 anos tinham este talento?! Ou parecido?! Ou noutra área?! Pois... por isso... toca a ir prá escola!

1 comentário:

margarido disse...

Ah pois é, bebé!